sexta-feira, 16 de julho de 2010

Entrevista: Alex Minis


O Alex é uma das figuras mais importantes do nosso hobby aqui no Brasil. Ele é responsável pela criação e fabricação de uma das minis mais importantes e sensacionais já feitas no Brasil: a Brasilia.

Por um período de tempo, o Alex fabricou essa mini e mais algumas, e se tornou conhecido por todo o país, e até internacionalmente, como referência de um trabalho corajoso e de excelente qualidade.

Mas infelizmente a produção acabou, deixando muitos fãs de seu trabalho orfãos. Essa entrevista vai mostrar os motivos dele ter parado com a fabricação, e focaremos basicamente nisso durante todo o papo. Para uma entrevista com o Alex antes do término da produção, e com mais vários detalhes sobre as minis, leia a entrevista cedida ao excelente blog Diecast Connection.

E agora, um recado do Alex:

"Antes de responder às perguntas, gostaria de agradecer à todos que de alguma maneira incentivaram a fabricação das minhas minis e a você pelo espaço para eu falar um pouquinho delas".

Alex, o que aconteceu pra você parar de fazer suas miniaturas de modelos nacionais?
A fabricação das miniaturas para mim era um hobby, algo que eu sempre havia sonhado e que gostava muito de fazer. Talvez por isso eu não tenha calculado o que verdadeiramente isto me custaria, tanto em tempo disponibilizado e mesmo em termos monetários. O que aconteceu foi que eu não medi esforços para viabilizar os carrinhos e acabei passando por cima de alguns conceitos essenciais da administração, que talvez viabilizassem o projeto como algo rentável. Cheguei a vender 2 carros antigos para levantar recursos e poder chegar na miniatura pronta, além das muitas horas dedicadas a estudos e projetos, inclusive estudando computação gráfica por conta própria para poder modelar as miniaturas com mais precisão.

Quando depois de alguns anos fiz as contas, percebi que o hobby tinha se tornado extremamente caro e que não seria mais viável continuar com ele.


Essa parada que você deu na produção é temporária ou é pra sempre?
Eu acredito que nada na vida é para sempre, além disso, eu adoro fabricar os carrinhos. Mas se um dia voltar não será neste formato e nem com estes modelos, até por respeito aos colecionadores que adquiriram suas minis. Mas não tenho nenhum plano para os próximos anos.


Você também parou com a sua coleção?
A minha coleção é junto com meu filho de 7 anos. A gente brinca com todos os carrinhos, e por isso ela continua independente de qualquer coisa.


Que modelos você fez nestes últimos anos? E em quais quantidades?
Eu fiz primeiro a Brasília com a primeira série numerada de 150 minis na cor verde Hippie e um pneu maior por conta de uma falha no projeto. Depois fiz um molde para os pneus mais proporcionais e havia 15 cores disponíveis, além de 8 modelos de rodas e 3 cores de interior. A última série da Brasília tinha 30 unidades e era na cor Azul Titânio e se esgotou em minutos.

Depois fiz o Opala Diplomata 92 primeiramente na cor preta e em seguida a última série na cor vinho com apenas 15 unidades.

Fiz também uma Brasília em papercar para ser montada sem cola ou tesoura, que eu distribuía quando tinha encontros, e um chaveiro do Opala Diplomata cromado que era dado de brinde junto com a mini.

Como eu só conseguia trabalhar nas horas vagas, não deu para criar outros modelos. A quantidade exata produzida eu não saberia te dizer.


Qual foi o seu maior prazer enquanto durou a produção das suas minis? Pessoas da indústria e da mídia te procuraram pra falar sobre o seu produto?
O maior prazer é sem dúvida a satisfação de ter conseguido fazer algo que desde a parada da produção da Roli Toys, há mais de 30 anos, não acontecia no país. Além disso, muitas pessoas mandaram e-mails agradecendo por realizar os sonhos delas de ter a mini do carro que tanto marcou suas vidas. Em um evento que participei, um senhor chegou a chorar pois a miniatura era exatamente igual à que ele havia tido e que fora roubada há alguns anos. Estas manifestações são o maior retorno e reconhecimento além de provar que valeu a pena tanto esforço.

Como era algo diferenciado e interessante, sempre que algum meio de comunicação estava presente em um evento dava destaque para minhas miniaturas. Também os amigos levavam seus modelos quando tinham a oportunidade de participar de alguma entrevista. Desta maneira consegui espaço na revista Quatro Rodas, na Auto e Técnica, alguns jornais e matérias em programas de televisão.

Fui procurado por algumas indústrias sim, inclusive uma grande montadora para fazer produtos promocionais, mas devido à estrutura que eu tinha não conseguiria atender à altura.


É possível ganhar dinheiro no Brasil produzindo minis?
Acredito que sim. Mas, como eu costumo comentar, tem que fazer a lição de casa direitinho. Fazer um planejamento completo, estudar a viabilidade do projeto, enxugar os custos para conseguir chegar a um preço menor e atingir um padrão na fabricação que torne possível uma distribuição nacional, mesmo que restrita à lojas especializadas.

Hoje, se eu fosse pensar em produzir para ganhar dinheiro consideraria muito fabricá-las na China


O que mudou neste hobby desde que você começou a produzir suas miniaturas? Houve um crescimento de uma cultura de customizações entre nós brasileiros?
Eu acredito que o hobby está crescendo sim e se profissionalizando. Hoje já se tem informações sobre os lotes, eventos nacionais e bom espaço na mídia. É uma evolução natural do colecionismo, o que é muito bom.

Eu acho que o pessoal sempre customizou seus carrinhos, mas só agora a customização está começando a aparecer. Os principais responsáveis são os fóruns e blogs onde o pessoal vê as miniaturas produzidas por outras pessoas, tira informações e também se anima em produzir alguns modelos e também participar de alguns concursos que às vezes aparecem. Muitos ainda não se sentem à vontade em mostrar o seu trabalho. Se um dia algum grande fabricante se animar a organizar um concurso com um prêmio cobiçado por todos, a customização “estoura” de vez no Brasil.


Como você vê o hobby de miniaturas hoje no país? O que você acha do papel da Mattel aqui? Você vai na convenção deste ano em Porto Alegre?
Tenho muitos amigos no hobby. Sempre que posso visito os eventos para rever o pessoal e dar umas risadas. A grande maioria das pessoas entende que colecionar tem que ser antes de tudo uma diversão, um prazer e isto faz o hobby ser saudável. Como em toda relação de pessoas, existem alguns idiotas que desmerecem o grupo que fazem parte. Já vi adultos brigando entre si e até com crianças por um carrinho de R$ 4,99. Ainda bem que são pouquíssimas pessoas.

A crise nos EUA, na minha opinião, foi o principal motivo da “homenagem” que a Mattel fez aos países contemplados com miniaturas dos seus carros. Independente disto, para a gente foi muito bom, o SP2 existe e é bem bacana, já estamos indo para a 3ª convenção, etc. O que não dá para explicar é a seqüência de pisadas na bola que ela tem protagonizado: lote que ia vir e não veio (pela 2ª vez), RLC fora do ar, entre outras. Não sei quais as estratégias da matriz americana para os mainlines no Brasil ou mesmo as limitações impostas pelo processo produtivo, mas a distribuição é muito “quadradinha”, sem criatividade. Se for vender para crianças, de repente o formato atual funcione, mas os colecionadores acabam se cansando de revirar gôndolas e não conseguir encontrar o que querem ou ver a especulação crescer cada vez mais. A solução deve passar por algum outro canal ainda não explorado, sei lá, talvez uma assinatura para aqueles que gostam de fechar as séries, ou algo do tipo "junte e troque". Alguma coisa nova neste sentido até ajudaria a resolver um problema que tende a se agravar com o tempo, que é de que os consumidores brasileiros não aceitam pagar mais de R$ 5,00 em um mainline na loja, como já ficou provado algumas vezes. É claro que são apenas ideias e que não levam em consideração até onde a Mattel do Brasil pode ir, o que pelo que conversei com o pessoal de lá não é nada longe.

Quanto a ir na convenção vai depender de como vai ser, infelizmente ainda não temos nenhuma informação além do dia e cidade (a entrevista foi respondida há duas semanas).


Tem alguma história engraçada que aconteceu nos anos em que você produziu sua mini?
Como respondi acima, produzir as miniaturas sempre foi um grande prazer, então, toda vez que eu ia a algum encontro procurava me divertir bastante. Na primeira convenção dos Hot Wheels eu levei um dos primeiros protótipos da Brasília para mostrar aos meus amigos que estariam lá. A miniatura era azul calcinha e agradou bastante a quem a viu. No lugar havia toda uma preocupação em expor somente os carrinhos da Hot Wheels e seria divulgado aquele Punto personalizado. No dia havia uma equipe de reportagem da Band, e a repórter se interessou em mostrá-la na matéria. Entretanto, quando ela foi segurar a miniatura ela caiu no chão e se despedaçou. Na hora eu não estava perto e alguns amigos vieram me avisar desesperados. Para aliviar um pouco a tristeza consegui colar com Super Bonder e ela foi dar uma volta de “impostora” na festa da Mattel.

Tirou foto com as Hot Girls, dentro do Punto (que era o “intocável”), nas pistas da exposição, etc. Já na segunda convenção a irmã verde limão dela foi parar no site oficial do evento recebendo um autógrafo das mãos do Sr. Larry Wood. Infelizmente perceberam logo e tiraram do ar, mas foram episódios bem divertidos.


Você pode deixar algum conselho pra quem quer começar a fazer ou customizar miniaturas em casa?
O conselho que serve para os dois casos é tomar cuidado com as ferramentas. Usar óculos de proteção, máscara para pintura e o que for necessário de acordo com o que você for produzir. Eu mesmo teria me machucado sério várias vezes se não estivesse protegido.

Na hora de customizar faça aquilo que você gosta com o que estiver ao seu alcance. Usando a criatividade e com poucos materiais dá para fazer coisas incríveis.

Se for fazer uma mini, dedique-se bastante porque o processo é longo, mas vale a pena. E crie sempre coisas novas que o reconhecimento virá.
Obrigado a todos que dedicaram alguns momentos a ler minha entrevista. Abraço, Alex.

9 comentários:

  1. Putz ! A Brasoca acabou !? Estava na minha lista de compras deste ano ... Bom .. Alex Valeu !

    []´s

    Masao..
    ps:eu tenho a de papel :-)

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  2. Muito bom essas minis made in Brasil.... A Mattel que nao fique esperta......

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  3. Depois de tantos e-mails trocados, finalmente conheci a cara do Alex, rsrsrs...

    Tenho as Brasílias da primeira e da última edições e o último Opala (o primeiro escapou pq a grana tava curta no lançamento). Com certeza encomendaria outras não fosse o final da produção!

    Pra gente, miniaturas especiais pra guardar como testemunho dessa "aventura". Pro Alex, certeza que conseguiu realizar o que muitos só ficam na vontade e na lábia...

    Brother, grande abraço pra vc!

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  4. Como sempre a entrevista foi incrível!!!!

    Espero que o Alex volte a produzir as miniaturas pois elas eram fantásticas!!!!!!!

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  5. quando o skyline chega ao brasil?

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  6. Grande Alex... um cara que admiro demais! Parabéns, como sempre, pelo seu trabalho!

    Eu tava lá no dia que a repórter destruiu a Brasília. Rolou tipo 1min de silêncio. Agora é engraçado lembrar. Mas no dia foi bem trágico né? rs

    Parabéns Douglas por entrevistar o Alex!

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  7. Olá. Obrigado aos amigos que de alguma forma apoiaram o meu projeto. Foi muito divertido enquanto durou. Grande abraço a todos, Alex.

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  8. É uma honra poder ter uma mini do Alex. Comprei uma Brasa Vermelha, muito show de bola. Pena eu não ter conseguido o Opala. Mas,enfim, estamos diante de um gênio, empreendedor e muito gente fina, que colocou a mão na massa e fez essas pequenas jóias. Só tenho a agradecer a ele a oportunidade de ter uma de suas obras de arte e lamentar o fim de sua fabricação. Alex fica com DEUS, e espero um dia seu retorno à produção, abraço.

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  9. Oito anos depois dessa entrevista, como está o Alex? Voltou a produzir alguma miniatura? Planeja produzir alguma novidade? O que ele produziria nos dias atuais?

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