Entrevista: Moacy

Todos já fizeram esta pergunta: "quem é o maior colecionador brasileiro de miniaturas?". E sempre que essa pergunta é feita, alguém responde: "ah, é o Moacy, um colecionador lá da Bahia".

Ou seja, o Moacy virou uma lenda. Muito já se falou, se inventou e se especulou sobre ele, mas todas as dúvidas acabam aqui: ele é o nosso entrevistado de hoje.

Esse baiano de 40 anos tem uma coleção incrível, e divide sua experiência com todos nós nesta excelente e lúcida entrevista. Quem quiser saber mais dele, veja esta outra entrevista que está no YouTube.

Você é conhecido como o "maior colecionador de miniaturas brasileiro"...

Uma correção. Não acredito que seja o maior colecionador porque deve ter gente escondida por aí, que não fala de sua coleção, com muito mais carrinhos que eu. Mas acho que devo estar entre os maiores. Tenho muito carrinho pra contar história.

Como e quando você começou a sua coleção?

E já se vão mais de 30 anos de coleção. Tenho 40 anos e desde 8, 9 anos eu já guardava os brinquedinhos com carinho.

Você tem idéia de qual o tamanho da sua coleção hoje?

Eu parei de contar há muito tempo. Mas sei que tenho mais de 20 mil itens. Penso, porém, que a quantidade não é o essencial e sim o prazer de olhar para os carrinhos.

Você cataloga tudo?

Já tentei todo tipo de organização que se possa imaginar, por ano, por marca, por modelo, por série. Hoje, a melhor forma de organizar é pela minha memória. Enquanto não começar a falhar, prefiro confiar nela que em qualquer outro tipo de planilha. É muito raro eu comprar um item que já tenha na coleção.

Que marcas você coleciona?

Todas que achar legal. Tenho comigo Racing Champions, Rei, Greenlight, Tiger Wheels, Matchbox, Siku, Hot Wheels, Johnny Lightning, Tomica, Konami, Revell, Minichamps, Kyosho, Evo, Jada, Maisto, Action, Winners Circle, Auto Art, Ertl e tantas outras, conhecidas ou não, como a argentina Imperial, a francesa Norev, a Golden Wheels de Hong Kong ou a Classic Carlectables da Austrália.

Como você faz para comprar todas as suas miniaturas? Dá pra achar muita coisa aí na Bahia ou vem tudo de fora mesmo?

Na Bahia não se acha nem a série normal dos Hot Wheels. Aliás, em termos de opções de compra de miniaturas, o Brasil deixa muito a desejar. Com exceção de São Paulo, mesmo assim com muito boa vontade, o jeito para os colecionadores é comprar em lojas especializadas nos Estados Unidos, Europa e Japão, através do site ebay ou com outros colecionadores.

Como faz pra armazenar toda a sua coleção? É possível organizar tanta miniatura assim?

É quase impossível organizar tudo. Tenho várias estantes, cases e expositores, mas a maior parte da minha coleção ainda está em caixas, fechadas. Tenho um pequeno depósito só para guardar minhas minis. Ultimamente tenho feito uns sets especiais, temáticos, com minis de variadas marcas, mas alusivas ao mesmo tema. Tenho mais de 5 mil miniaturas armazenadas em expositores de MDF, desses que são encontrados à venda na internet. São 70 expositores de 28 nichos, 14 de 50 nichos e 25 de 112 nichos. Eu fiz uns armários e coloco um ao lado do outro, como se fossem livros em uma estante. Assim eu resolvo um problema de espaço, retirando muitos carros dos blisters, mas sem deixá-los expostos, já que as caixinhas são fechadas. Aí, quando preciso, é só puxar a caixinha que procuro, que são identificadas nas laterais.

Você mantém as miniaturas na embalagem, ou soltas?

Só deixo na embalagem as que ainda não tenho onde expor. Fora isso, canso de estragar a lâmina do estilete. Sou do tipo que acha que a mini tem que pegar, olhar as rodas, conferir os detalhes. Agora, se não tiver onde guardar de forma que fique conservada, é melhor deixar no blister até achar um bom momento para abrir.

Qual o seu objetivo na coleção, ter todas as miniaturas que existam no mundo?

Ninguém conseguirá ter todas as minis do mundo. O Nando, um colecionador de SP, definiu uma vez como é esse hobbie: "Quanto mais compramos, mais aparece coisa pra comprar". Agora, não saio comprando mais qualquer mini, por exemplo, nem encaro mais os balaios de lojas em busca dos Hot Wheels do ano. Porém, o prazer de dizer pra mim mesmo "eu tenho essa mini", isso sim, eu posso garantir que já disse várias vezes.

Qual é a sua miniatura favorita?

A última que eu comprei.

Você tem idéia de quais são as mais raras? Qual foi a mais cara que você comprou?

Não lembro qual a mais cara, porém já paguei caro em algumas minis de minha coleção. Sem hipocrisia, isso é inexplicável, porque entre gastar com outras coisas e gastar com os carrinhos, eu prefiro gastar com meu hobbie. Meus carrinhos são meus objetos de desejo, são meus companheiros, há décadas. Fora eles, somente meu nome, minha mãe e meus irmãos estão comigo há mais de 32 anos.

Tem alguma miniatura que você quer muito e ainda não conseguiu?

De todos os T-Hunts da Hot Wheels encerrados em 2008 me falta apenas o Camaro de 1995. Não comprei ainda por mero descaso, mas também não é algo que esteja perseguindo como se fosse a última mini do mundo. A raridade e o preço a pagar dependem do meu prazer. Se adquirir uma mini vai me dar mais prazer do que o que tenho com as da minha coleção, então faço um esforço para adquirí-la. Se não for isso, pode passar.

O que você tem achado da postura da Mattel do Brasil com os colecionadores?

Sou colecionador de carrinhos na escala 1/64. No Brasil temos mais colecionadores de Hot Wheels que colecionadores de carrinhos 1/64 e isso é compreensível porque é a marca mais popular. Meus primeiros carros foram os REI, que tenho até hoje em quantidade que poucos no país têm. Os itens Mattel - Matchbox e Hot Wheels - são apenas mais duas marcas de minha coleção e para tê-los nunca dependi da filial brasileira. Mas como tenho que responder a pergunta, penso que essa empresa está pouco preocupada com os colecionadores brasileiros. A prova disso é o preço dos 100% que apareceram ultimamente em algumas lojas, que custam R$50,00, ou seja, quase U$30.00. Eu comprei os meus nos EUA por U$5.00. Eu mesmo vendo os 100% e os Black Box de 1998 a 2002 (raros e fora de linha) por um valor abaixo desses lançamentos que estão nas lojas. Outra coisa, a decisão de não trazer mais os Matchbox é lamentável. Estes exemplos falam por si só. Mas esses são problemas da Mattel e dizem muito pouco para mim.

O que a sua família acha da sua coleção?

Minha esposa tem uns 110 carrinhos rosa ou com pinturas em motivos florais. Os primeiros carrinhos dela foram 28 miniaturas que dei em um expositor de mesmo número. Depois disso, ela passou a colecionar também. Inclusive, ela esteve comigo em Curitiba em julho passado, num evento promovido pela galera de lá. Meus dois filhos - de 14 e 4 anos, respectivamente - têm os carrinhos deles. Todo mundo gosta.

Quantas horas por dia ou semana você dedica a esse hobby?

Muitas horas. Depende do tempo livre do trabalho e das outras tarefas. Mas meu hobbie tem lugar cativo no meu dia. Além disso, gasto muito tempo com o gerenciamento das vendas, já que hoje negocio no Mercado Livre as minis repetidas que tenho ou as que compro fora do Brasil com o objetivo de revender e arrecadar um dinheiro extra para sustentar minha coleção. Então, é preciso ter tempo.

Tem alguma dica pra dar para aquele colecionador que está começando agora sua coleção?

Colecionar por prazer, esse deve ser o objetivo único. Nunca por modismo ou para chamar a atenção. Eu sinto uma dor enorme quando recebo mensagens de colecionadores se desfazendo da coleção e perguntando se não quero comprar. Recentemente eu falei com um amigo do Paraná que tem muitos carrinhos e perguntei como andava a coleção. Ele disse que não estava mais comprando e que não tinha mais tempo para o hobbie. Para quem investiu tanto em carrinhos, gastando uma verdadeira fábula, fazendo tantas estantes, participando de todos os eventos em sua cidade como ele fez, ficou claro que aquilo era apenas um modismo. O prazer de colecionar supera a falta de tempo. Se o hobbie deixou de ser interessante é porque a beleza, o verdadeiro prazer, não existia. A beleza de colecionar as miniaturas está na medida da satisfação. Se acabou o prazer (e o tempo), é a prova que a beleza nunca existiu.