Entrevista: Nagi

Colecionar miniaturas no Brasil não é tarefa fácil para ninguém. Misturam-se sentimentos de ansiedade, angústia, raiva e prazer, tudo ao mesmo tempo. Mas hoje ainda é até fácil com a internet e uma maior oferta de produtos. O que dizer de alguém que tem esse hobby há quase 40 anos no Brasil?

Conheçam o Nagi, um grande colecionador de miniaturas Matchbox, Hot Wheels, e de mais um monte de coisas:

Sua coleção começou quando você ainda era criança. Conta como foi essa história.

A minha coleção realmente tem dia e ano de início, e se eu fizer um esforço consigo até a hora. Ela começou quando fomos passar as férias de fim de ano no Líbano, chegamos lá no dia 1º/12/1974 e no dia 02/12, era meu aniversário, acabei ganhando 40 carrinhos Matchbox (tenho todos), entre outros brinquedos que tenho até hoje, a hora foi por volta de 14:00h de Brasília, 20:00h de Beirute.

Esta foto foi tirada no dia seguinte do meu aniversário 03/12/74, minha coleção tinha 1 dia de existência. Sou o sentado no trenó.

Qual é o tamanho da sua coleção hoje? Além de Hot Wheels e Matchbox, que outras marcas você tem?

Atualmente devo estar com aproximadamente 4 mil peças. A minha coleção do coração é Matchbox; Hot Wheels comecei a colecionar por falta de opção, os que tenho mais antigos da HW, juntava só os que achava legais. As outras marcas que coleciono são: Solido, Vitesse, Brumm, Rio, Racing Champ, Lledo, Ertl, Viking, Herpa, Prailine, Revell, Tomica, Corgi, Majorete, Tootsie Toys, Burago, Johnny Lightning, Maisto, Jada, M2, Greenligth, Oxford, Schuco, Rei e mais algumas que não me recordo.

Apesar de parecerem expostas, estas peças estão guardadas em caixas com a vitrine e as gavetinhas.

Além de colecionar, você monta algumas das suas estantes. Como você expõe sua coleção? Todos os modelos estão fora da embalagem original?

Sim, algumas das minhas estantes foram feitas ou desenhadas por mim. Atualmente estou fazendo uma estante mala para poder expor nos eventos algumas peças com alguma segurança. Com relação aos modelos ficarem na embalagem, isto é muito pessoal: eu, tendo lugar para colocar a miniatura, retiro da embalagem (se for cartela), se for caixa, principalmente nas escalas 1/64 e 1/43, coloco normalmente as miniaturas sobre as caixas, principalmente se a caixa for bonita. Todas as caixas que tenho e que ficam expostas são cópias das originais que são desmontadas e guardadas em um arquivo para melhor conservação.

Assim era como estava a vitrine antes de desmontar.

O atual estado da vitrine e da coleção, que está toda em caixas.

Além dos carrinhos da Matchbox de vários anos, você também tem modelos diferenciados desta marca, certo? Você prefere os Matchbox de quais anos? Quais são seus favoritos?

Matchbox é uma história a parte. Eles despertam em mim um sentimento de nostalgia e de maravilhosas lembranças da minha infância, adolescência e juventude, ou seja, gosto de todos os anos de Matchbox principalmente os “MADE IN ENGLAND” de qualquer ano. O carrinho que mais gosto, e isto é bem pessoal e envolve questões psicológicas complicadas de explicar, é o SAAB SONETT III – Nº65 de 1973, também gosto muito da linha “YESTERYEAR”.

Saab Sonett III Nº 65 de 1973.

Carruagem da coroação 1953.

Você também tem outras coleções, como brindes de Kinder Ovo e soldadinhos de chumbo. Também são difíceis de colecionar?

Quanto a outras coleções tenho várias: selos (mais de 10 mil, de valor somente 3), moedas, cédulas, gibis (heróis Marvel e DC, tenho tudo que saiu no Brasil de 1977 até 1993) e Kinder Ovo. Da linha do Kinder Ovo, só coleciono o que acho bonito e os bonecos de metal são a principal linha da minha coleção de Kinder. No Brasil saíram de 1994 a 1998 totalizando, se não estiver enganado, 65 peças considerando as variações de cor, mas conseguir as peças que não saíram no Brasil é mais complicado, pela dificuldade de achar as peças, e quando acha o preço é muito caro, principalmente no nível em que minha coleção se encontra.

Vitrine Kinder Metal.

Desde que você começou a colecionar até hoje você passou por várias fases difíceis para colecionadores brasileiros, sem importação oficial e em uma época em que não existia internet. O que mudou nesse tempo todo? É mais legal colecionar agora do que no passado? Como você fazia pra conseguir os ítens que queria?

Para ser sincero, antes do advento da internet e da globalização era muito mais divertido e infinitamente menos estressante colecionar, principalmente porque era muito difícil saber qual era o real número de miniaturas que uma determinada marca lançava, ou seja, não havia a neura de completar, mas sim de ter o maior número de miniaturas diferentes. Eu comprava nos anos 80 muito nas feiras de antiguidades, pois quase ninguém da minha idade colecionava os Matchbox da vida (era coisa de criança), a maioria dos colecionadores era composta de empresários, juízes, delegados que eram loucos por Burago 1/24 e 1/18 e não davam a menor bola para os 1/64, os quais eu comprava de balaio e a preço mais barato do que os HW de gôndola. Mesmo os catálogos das marcas existentes eram difíceis de conseguir, quem tinha condições de viajar para Europa e Estados Unidos tinha uma vantagem gigantesca.

Nos últimos 10 ou 15 anos, o colecionismo cresceu muito no Brasil e como tudo que se diversifica muito, passa a ter mais visível o lado podre e ganancioso e isto se manifesta com muita força (o lado negro), hoje temos muitos colecionadores, o que permite que possamos trocar peças e informações em uma escala e velocidades muito maiores, mas tambêm temos os ratos, que podem até parecer colecionadores, mas são ratos em pele de coelho que se aproveitam para tirar vantagem principalmente financeira e não para o crescimento de sua coleção.

Quais os modelos mais difíceis de achar que você tem na sua coleção? E os mais raros? Tem algum modelo que é o seu sonho de consumo que ainda não conseguiu comprar?

Um modelo raro é o Y-25 Lagonda Drophead 1938 Matchbox Of YesterYear nas cores bordo e dourado, foram feitos poucos com esta combinação de cores. O modelo de meus sonhos e que ainda vou conseguir é a carruagem grande dourada feita em homenagem à coroação da rainha Elisabeth II em 1953, tenho uma pequena prata e uma reedição dos 40 anos da coroação dourada.

Y-25 Lagonda Drophead 1938 Matchbox of YesterYear.

Carruagem comemorativa dos 40 anos da coroação da rainha Elisabeth.

Sua coleção tem algum tema específico? Quais são os modelos que você prefere pra sua coleção?

Não tenho nenhum tema específico, mas gosto de bombeiros, polícia e de carros que tenham personagens (famosos ou não).

O que você acha da Mattel do Brasil, e seu relacionamento com os colecionadores? E o RLC brasileiro? Você tem uma história engraçada sobre isso, não é?

Da Mattel do Brasil, só tenho pena dos executivos que poderiam estar em melhor posição no mercado mundial, pois estão acordando um pouco tarde, apesar dos claros e luminosos avisos que vinham recebendo há vários anos, mas não tiveram a coragem de agir agressivamente e preparar a empresa para o mercado brasileiro.

Com relação ao trato com os colecionadores, vem melhorando muito, mas ainda esta bem aquém do que realmente merecemos, principalmente a logística de distribuição pelo Brasil privando vários colecionadores de completarem a coleção com compras a preços honestos.

Quanto ao RLC, eles foram engolidos pelo Tsunami de colecionadores, isto eles não previam, acabaram enfiando os pés pelas mãos. Mas espero que se organizem melhor, pois somos tão ou mais colecionadores do que os auto-intitulados americanos “maiores colecionadores do mundo” e nós estamos provando ao contrário.

A história engraçada para mim, e não para o RLC, é que recebi o kit sem nem ter pago e até o momento ninguém reclamou, posso estar depondo contra mim mas no momento que se organizarem quero acertar a situação com eles e ter o meu cartão de sócio.

Tem alguma dica pra dar para os colecionadores que estão começando agora neste hobby?

Se você é rico, colecione tudo que gostar, senão tenha um segmento para o qual direcionar a sua coleção (Ferrari, caminhões, polícia, carros rosa, hot, etc...), senão você vai ser engolido por ela, que pode não parecer um vício, mas é tão ruim quanto as drogas, se fugir de controle. Um dos segredos de uma boa coleção é ter bons amigos colecionadores, que poderão ajudá-lo na busca do seu tão procurado tesouro.